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Terroristas de verde e amarelo vandalizam a Democracia brasileira

Global South News (Brasil)

Por Iara Vidal (Brasil)

Extremistas de direita invadiram e destruíram as sedes dos Três Poderes da República, em Brasília, neste domingo (8); movimentos sociais reagem e convocam atos pela democracia e contra anistia a criminosos

Brasília – Domingo, 8 de janeiro de 2023, o dia em que a Praça dos Três Poderes, em Brasília, capital do Brasil, foi invadida e depredada por terroristas vestidos de verde e amarelo, as cores nacionais. Há uma semana esse mesmo espaço abrigou uma festa de democracia e alegria popular durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que subiu a rampa do Palácio do Planalto pela terceira vez. 

Em estado de negação sobre o resultado das eleições para presidente do Brasil em outubro, golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro – que fugiu para a Flórida, nos EUA –  invadiram o centro da capital federal. Os atos de destruição ocorreram dois anos e dois dias depois da invasão do Capitólio, sede do Legislativo dos EUA, em Washington, no dia 6 de janeiro de 2021, por extremistas de direita apoiadores de Donald Trump.

Os extremistas de direita invadiram o Congresso Nacional, sede do Legislativo; o Palácio do Planalto, sede da Presidência da República; e o Supremo Tribunal Federal (STF), a Suprema Corte brasileira. Os três prédios foram vandalizados.

Vários espaços do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal foram vandalizados.
Vários espaços do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal foram vandalizados.
Vários espaços do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal foram vandalizados.

Lula reage com rigor 

Presidente Lula

O presidente Lula reagiu com rigor e decretou intervenção federal na área de segurança no Governo do Distrito Federal (GDF) até o dia 31 de janeiro pela inação da Polícia Militar e demais forças de segurança, que no mínimo foram frouxas para coibir os atos antidemocráticos. Lula estava em Araraquara, cidade do estado de São Paulo, atingida por fortes chuvas, quando soube do ataque terrorista em Brasília. 

O presidente do Brasil concedeu uma coletiva e ao ler o decreto, classificou os terroristas como “vândalos” e destacou que todos os envolvidos nos atos extremistas serão encontrados e punidos.

“Eles vão perceber que a democracia garante o direito de liberdade, de livre expressão, mas também exige que as pessoas respeitem as instituições criadas para defender a democracia.”
Luiz Inácio Lula da Silva

O decreto destaca que a intervenção se faz necessária para pôr ordem pública no DF, “marcada por atos de violência e invasão de prédios públicos”.

Ainda na noite de domingo o presidente da República já estava na capital e inspecionou a destruição dos locais. Lula foi pessoalmente ao Palácio do Planalto vistoriar os estragos cometidos pelos vândalos golpistas. Depois, caminhou pela Praça dos Três Poderes até o Supremo Tribunal Federal (STF), onde conversou com a presidenta do STF, Rosa Weber, e com o ministro Luís Roberto Barroso.

Reação popular

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e outros movimentos sociais farão inúmeras manifestações, nesta segunda-feira (9), em defesa da democracia e pela punição aos golpistas envolvidos na invasão terrorista às sedes dos Três Poderes.

Os atos terão a participação de diferentes movimentos sociais reunidos nas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que acertaram em conjunto, na noite deste domingo, a realização da manifestação. Haverá atos em outras capitais e cidades de todo o Brasil

Congresso convocado

A partir do decreto de Lula, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) convocou o Congresso extraordinariamente na noite deste domingo para analisar o mais rapidamente possível a intervenção no DF.

Interventor federal

O interventor do Distrito Federal na área da segurança pública até 31 de janeiro será o secretário-executivo do Ministério da Justiça brasileiro, Ricardo Cappelli. Ele é homem de confiança do Ministro da Justiça, Flávio Dino, e ficará subordinado ao presidente Lula durante o período de intervenção. Caberá a ele tentar desbaratar os movimentos golpistas no Distrito Federal.

Ministro da Justiça chama atos de terrorismo

O ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, concedeu uma entrevista coletiva no domingo à noite. Ele afirmou que o ministério atua para restabelecer a ordem no Distrito Federal e que os atos terroristas serão tratados com rigidez. “Não conseguirão destruir a democracia brasileira”, afirmou Dino. “Isso não é continuidade do processo eleitoral, isso é terrorismo, é golpismo”, completou.

Dino informou que mais de 40 ônibus foram apreendidos e os passageiros e financiadores identificados.  Após o restabelecimento da ordem pública, a prioridade máxima do ministério será apurar as ações de financiadores e incentivadores e determinar a prisão preventiva por coautoria nos atos extremistas.

Governo do DF falhou para conter os atos

O ministro da Justiça evitou atribuir ao governador do Distrito Federal, unidade da Federação onde está Brasília e que é responsável pela segurança da Praça dos Três Poderes, Ibaneis Rocha, a culpa pela falha de segurança. 

Dino afirmou acreditar que o governador Ibaneis Rocha “recebeu informações erradas” e tomou decisões administrativas com base nelas. “Quero crer que o senhor governador vai apurar as responsabilidades dos que não cumpriram seu dever constitucional”, destacou.

O ministro afirmou que o planejamento de segurança no DF previa que a Esplanada dos Ministérios estaria fechada para pedestres, mas que uma mudança foi realizada de última hora e não informado da alteração que permitiu o livre acesso de pedestres às sedes dos três poderes. 

Dino ressaltou ter questionado o secretário da Casa Civil do DF, Gustavo Rocha, e o governador da mudança repentina e que recebeu como resposta a afirmação de que “estaria tudo tranquilo”.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o governador Ibaneis Rocha pediu desculpas ao presidente Lula pelos ocorridos em Brasília. Segundo Ibaneis, apesar do monitoramento dos movimentos golpistas, as forças de segurança foram surpreendidas. 

Rocha também se dirigiu à presidenta do STF, ministra Rosa Weber, e aos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco. 

Na madrugada de domingo para segunda-feira (9), o ministro do STF Alexandre de Moraes, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE, afastou por 90 dias o governador do DF, Ibaneis Rocha, de suas funções.

PMDF apoiou terroristas

No início da tarde deste domingo, manifestantes golpistas chegaram ao Quartel General do Exército em ônibus de diversos estados do Brasil. Os extremistas se deslocaram em direção à Esplanada dos Ministérios por volta de 14h40 e a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) interrompeu o trânsito de duas faixas do Eixo Monumental para proteger os bolsonaristas.

Nas redes sociais, os apoiadores já se organizavam desde o início da semana e prometiam atos para esse sábado, domingo e segunda-feira (9). A segurança na área central de Brasília foi reforçada, mas não foi o suficiente para segurar os extremistas.

Pedido de prisão do secretário de Segurança do DF

Diante das evidências de que a Polícia Militar do Distrito Federal tenha sido conivente ou pelo menos agido sem a devida força para evitar as invasões, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, resolveu exonerar o secretário de Segurança, Anderson Torres. 

Antes, Torres foi o ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e já tinha sido pouco ativo nos episódios que aconteceram no dia da diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 12 de dezembro de 2022.

O governador do DF exonerou o secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, que foi ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Torres está fora do país, nos EUA, e se reuniu com o ex-presidente derrotado na Flórida esta semana. 

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao STF que determine a prisão de Anderson Torres. Entre os pedidos enviados, a AGU determinou a desocupação das ocupações de prédios públicos em todo o país e a desmobilização de todos os atos antidemocráticos na frente de quartéis.

Desmonetizar canais golpistas

O advogado-geral da União, Jorge Messias, também pediu a desmonetização de perfis que incentivem a realização dos atos antidemocráticos, que as operadoras de celular guardem por 90 dias os registros de conexão de aparelhos de celular para identificar os participantes dos atos e a apreensão de todos os veículos envolvidos no transporte dos terroristas e que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) mantenha registro de todos esses veículos que ingressaram no DF entre os dias 5 e 8 de janeiro deste mês.

Segundo a AGU, os atos “importam prejuízo manifesto ao erário e ao patrimônio público e também causam embaraço e perturbação da ordem pública e do livre exercício dos Poderes da República, com a manifesta passividade e indício de colaboração ilegal de agentes públicos”.

Horas de quebradeira

Após horas de vandalismo e depredação, os terroristas apoiadores de Bolsonaro começaram a recuar por conta do avanço e aumento do efetivo das forças de segurança. Segundo as informações iniciais, já foram presos 200 golpistas, sendo 30 deles somente dentro do Senado Federal.

Por volta das 20h, os três prédios invadidos (Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF) estavam desocupados. Os manifestantes foram dispersados com o uso de bombas de gás de pimenta, de gás lacrimogênio e de efeito moral.

Cerca de 300 pessoas foram presas em flagrante até as 23h de domingo e as prisões em situação de flagrância seguirão até as próximas horas.

Jornalistas agredidos

Pelo menos 8 profissionais da imprensa que participaram da cobertura da invasão aos prédios dos Três Poderes foram vítimas de violência neste domingo em Brasília. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e a Federação Nacional de Jornalistas divulgaram uma nota no início da noite e repudiaram as agressões sofridas por profissionais da imprensa.

Tragédia anunciada

Há uma parte do povo brasileiro que foi inoculada por uma hipnose fascista que parece não ter fim. Desde o dia 30 de outubro de 2022, data em que Lula venceu Jair Bolsonaro para a Presidência da República, brasileiros e brasileiras golpistas fincaram pé na frente de quartéis por todo o país porque não aceitam o resultado das urnas. 

Uma profusão de imagens absurdas dessas pessoas pelas redes sociais: com o celular na cabeça pedindo intervenção extraterrestre, continência para pneu, choro, chuva, dor de barriga, mais chuva, lama. Um circo de horrores. 

Em Brasília, as portas do Quartel General do Exército, o equivalente ao Pentágono dos EUA, foram tomadas por um acampamento dos que se intitulam “patriotas”. Eles pedem o fim da democracia, querem destituir os três poderes da República e um golpe militar e não aceitam a vitória de Lula. Vivem uma dissonância cognitiva de um universo paralelo criado nas redes sociais.

Partiram desses acampamentos os apoiadores de Bolsonaro que transformaram Brasília em um inferno no dia 12 de dezembro de 2022. Naquela noite, os terroristas protestaram na sede da Polícia Federal, queimaram e depredaram veículos de populares que estavam estacionados próximos ao local e incendiaram ônibus públicos.

Na véspera do Natal de 2022, no dia 24 de dezembro, houve uma tentativa de explosão de um caminhão de combustível perto do aeroporto de Brasília. Um dos autores do atentado frustrado foi preso e afirmou em depoimento à Polícia Civil do DF que planejou com manifestantes do Quartel General no Exército a instalação de explosivos em pelo menos dois locais da capital federal para “dar início ao caos” que levaria à “decretação do estado de sítio no país”, o que poderia “provocar a intervenção das Forças Armadas”.

Arte depredada

Quadro de Di Cavalcanti rasgado

“Mulatas”, um quadro de Di Cavalcanti, um dos maiores pintores brasileiros, foi rasgado pelos golpistas em mais de um lugar.
“Mulatas”, um quadro de Di Cavalcanti, um dos maiores pintores brasileiros, foi rasgado pelos golpistas em mais de um lugar.

Relógio de Dom João VI

Um relógio que pertenceu a Dom João VI, o príncipe regente que trouxe a família real portuguesa para o Brasil em 1808, pai de Dom Pedro I, que proclamou a independência do Brasil e avô de Dom Pedro II, foi destruído.

Armas roubadas

Imagens de uma sala do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mostram maletas vazias que armazenavam armas e munições. O arsenal ainda não foi localizado.
Imagens de uma sala do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mostram maletas vazias que armazenavam armas e munições. O arsenal ainda não foi localizado.

Iara Vidal é jornalista brasileira e atua em Brasília (DF) 

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